Nietzsche & Logoscracia


Os últimos dias de Nietzsche em em Turin


"Entendo o filósofo como um terrível corpo explosivo, diante do qual tudo corre perigo. Não sou, por exemplo, nenhum bicho papão, nenhum monstro moral. Sou até mesmo uma natureza oposta a espécie de homem que até agora se venerou como virtuosa. Cai entre nós, parece-me que justamente isso forma parte de meu orgulho. Sou um discípulo do filósofo Dioniso, preferia ser um sátiro a ser um santo. Se faço a guerra ao cristianismo, isso me é facultado porque desta parte nunca experimentei contrariedade e obstáculos. Os mais sérios cristãos sempre se mostram de boa vontade para comigo, eu mesmo, um adversário de “rigueur” do cristianismo, estou longe de guardar odio ao individuo pelo fato de ser cristão. Fatalidade de milênios. Jesus não negou o mundo, nem o desprezou, fazendo dele um vestíbulo de um mundo melhor, de um além. Ele simplesmente o ignorou sem negá-lo ou aprová-lo. Foi pela mão de seus discípulos e apóstolos que o não à vida foi inoculado nesse mundo. O budismo é cem vezes mais realista que o cristianismo, tem em si a herança de saber formular os problemas de um modo objetivo e frio, surge após séculos de atividade filosófica, não luta contra o pecado, luta contra o sofrimento. Deixa já atrás de si o alto engano dos conceitos morais, situa-se para falar na minha linguagem, além do bem e do mal.

Neste dia perfeito, em que tudo amadurece e não somente a videira doura, caiu-me na vida um raio de sol. Olhei para trás, olhei para frente, nunca vi tantas e tão boas coisas de uma vez. Não foi em vão que enterrei hoje o meu quadragésimo quarto ano, eu podia enterrá-lo, o que nele era vida esta a salvo, é imortal. “O Anticristo”, “Os Ditirambos”. “O crepúsculo dos Ídolos”, meu ensaio de filosofar com o martelo. Tudo isso, são presente deste e alias de seu último trimestre. Como haveria eu de não estar grato a minha vida inteira? E por isso me conto a minha vida.

(...)

Conheço minha sina, um dia, meu nome será a lembrança de algo terrível, de uma crise como jamais houve sobre a terra, da mais profunda colisão de consciências de uma decisão conjurada contra tudo eu ate então foi acreditado, santificado, requerido. Eu não sou um homem, sou uma dinamite, mas minha verdade é terrível, pois até agora chamou-se a mentira de verdade. Transvaloração de todos os valores, é a minha fórmula para um ato de suprema autognose da humanidade, que em mim se faz gênio e carne. A fortuna de minha existência e sua singularidade talvez esta em sua fatalidade. Diria em forma de enigma que como meu pai já morri e como minha mãe vivo e envelheço. O desenvolvimento da arte esta ligado a dois impulsos artísticos: O apolíneo e o dionisíaco. Tomei este nome emprestado do mundo dos deuses gregos. Apolo, deus da serenidade, é o nome grego para a faculdade de sonhar. É o principio da luz que faz surgir um mundo a partir do caos originário. É o principio ordenador, que tendo tomado as forças cegas da natureza submete-as a uma regra. É o símbolo de toda a aparência, de todas as artes plásticas. Da forma as coisas, delimitando-as com contorno preciso. Fixando seu caráter distintivo e determinando sua função e seu sentido individual. Modela o movimento de todo elemento vital. Imprimindo cada um a cadencia a forma do tempo e impõe desse modo ao devinir, uma lei, uma medida. Dioniso, deus estrangeiro e errante. Dioniso é o nome grego para o extase, embriaguez. Estado que destrói, que despedaça, aboli o finito e o individual. Dioniso é o deus do caos, da desmesura, da deformidade, da fúria sexual, do fluxo da vida, é o deus da musica, a arte universal, a mãe de todas as artes."




Trecho do filme: Os ultimos dias de Nietzsche em Turim


Fonte:
http://www.youtube.com/watch?v=ZUOVPsd0XGg&NR=1

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